Morreu, nesta sexta-feira (20), o cantor pernambucano
Reginaldo Rossi. Ele estava internado no Hospital Memorial São José, no Recife.
Reginaldo deu entrada no hospital em 28 de novembro e foi
levado diretamente para a UTI, na ocasião a família não divulgou a causa da
internação. Em 4 de dezembro, um nódulo foi retirado da axila direita do cantor
e submetido a biópsia. No dia 9 passou por um procedimento chamado
toracocentese, que retirou dois litros de líquido acumulados entre a pleura e o
pulmão. O resultado da biópsia, divulgado no dia 11, confirmou o diagnóstico de
câncer de pulmão.
Este texto publicado no site do Jornal do Comercio há 10
minutos sintetiza bem o que representou o "Rei do Brega" na vida dos...
pernambucanos e brasileiros: O garçom já não escuta mais lamentações na mesa de
bar. A raposa não está mais com as uvas. Itamaracá já não tem tanto encanto
assim. O brega ficou doidão. Tudo porque faleceu nesta sexta-feira (20), o
pernambucano Reginaldo Rossi. O cantor, de 70 anos, não resistiu a um câncer de
pulmão. Estava internado no Hospital Memorial São José, no Recife, desde o dia
27 de novembro, quando sentiu dores no peito. Dessa vez, entretanto, a dor não
era de amor, como as músicas dele espalhavam.
Abaixo o perfil e Reginaldo, publicado na série Grandes Nomes
da MPB:
REGINALDO ROSSI, O REI
A música chamada brega, um gênero romântico mais escrachado
ou vulgar, teve grandes representantes no país e alguns se tornaram grandes
vendedores de disco. Infelizmente, a indústria do disco, aliada ao rádio e a
televisão provocaram tal processo de decadência na música nacional, nas últimas
décadas, que até o brega piorou muito e ainda por cima tomou conta da
programação das emissoras. Quais os principais bregas das décadas de 60 e 70?
Aguinaldo Timóteo, Altemar Dutra, Lindomar Castilho, Odair José, Amado Batista,
Adilson Ramos, Nelson Ned, Waldic Soriano, Wando, Fernando Mendes e Reginaldo
Rossi. Alguns desses artistas, como Aguinaldo, Odair, Amado e Rossi, produziram
muita coisa, dentro do seu estilo, que não podem ser descartadas pelos estudiosos
da música popular brasileira. Seja porque são canções de melodia bonita, de
letras bem elaboradas, seja porque representam, essas canções, um expressivo
contingente da população da periferia, das grandes, médias e pequenas cidades.
Lamentavelmente, até o brega hoje perdeu seus representantes mais legítimos. O
que temos aí, tocando nas rádios e conseguindo espaço na TV é um falso forró,
um sub-brega encampado por bandas de gosto duvidoso e vocalistas miando mais do
que cantando, e uma epidemia de falsos sertanejos, sem nada a ver com Tonico e
Tinoco, Pena Branca e Xavantinho ou mesmo Renato Teixeira.
Chitãozinho e Chororó, Leandro e Leonardo (com a morte do
irmão este continuou sua carreira sozinho), Zezé de Camargo e Luciano, Bruno e
Marrone e outras duplas menos famosas são breguice pura, assim comoSaia Rodada,
Cavaleiros do Forró, Calcinha Preta e Limão com Mel. A diferença entre eles e
os famosos bregas surgidos nos anos 60 e 70 é que os antigos tinham muito mais
qualidade, fizeram muitas músicas criativas, válidas como expressão de uma
classe. Esse time mais novo, além de abrigar péssimos cantores, se caracteriza
pela produção de canções completamente descartáveis, com letras de uma pobreza
total, se repetindo de uma maneira absurda e que só se sustentam mesmo graças
ao apoio da indústria, esta ancorada na televisão, principalmente na TV Globo,
que dificilmente abre espaço para alguma coisa que preste em sua programação.
Como representante dos mais bem sucedidos desse gênero da
música popular brasileira, vamos ficar com Reginaldo Rossi. Não tanto por ele
ser recifense e estar mais uma vez escalado para o Festival de Inverno de
Garanhuns, mas principalmente por ser hoje o mais popular desses
cantores/compositores. Odair José brilhou, uma certa época e cantou até com
Caetano Veloso. Amado Batista chegou a ser o maior vendedor de disco do país.
Aguinaldo Timóteo ao longo da carreira gravou verdadeiras pérolas e além disso
tem um vozeirão incrível. Nenhum deles, no entanto, conseguiu um êxito igual ao
do pernambucano, que há quase 50 anos emplaca sucessos do agrado do povão, de
parte da classe média e até da elite.
Reginaldo nasceu no Recife, em 1944 e começou sua carreira no
movimento da Jovem Guarda. Chegou a fazer parte de uma banda de rock da época,
denominada The Silver Jets. Depois fez carreira solo e gravou uma música
intitulada “O Pão”, que tocou bastante nas rádios da capital pernambucana e no
interior. Sucesso maior viria com Mon amour, meu bem, ma femme, já no estilo
brega-romântico, a primeira canção gravada pelo artista a extrapolar as
fronteiras do seu Estado.
Com o fim da Jovem Guarda, Reginaldo Rossi andou uns tempos
sumido, renascendo em meados da década de 70 principalmente com sua ligação ao
MDB e PMDB. O partido (houve só a mudança na sigla por exigência da lei) fazia
oposição à ditadura e seus principais representantes em Pernambuco, como Marcos
Freire e Jarbas Vasconcelos faziam comícios memoráveis no Recife e outras
cidades. E durante várias campanhas, para governador e prefeito da capital,
Reginaldo Rossi passou a ser a principal atração dos comícios. Chamava público.
Os moradores dos morros, da periferia da capital se identificavam totalmente
com o som daquele sujeito feio e grosseiro que falava de amor e traições.
Logicamente, não foi só a política que ajudou Reginaldo a
permanecer nas paradas até hoje. Dentro do seu estilo, ele tem talento ou
intuição e ao longo dos anos sacou composições incríveis. A Raposa e as Uvas e
Garçon são as maiores expressões da música de Rossi e principalmente a última
se tornou conhecida nos quatro cantos do país. Virou um verdadeiro “clássico”
da canção romântica ou brega nacional, merecendo inclusive regravações de
outros artistas.
Reginaldo nas suas entrevistas passa a impressão de ser um
cara convencido, arrogante e boçal. Acha que é o tal. O artista garante ter
começado a estudar engenharia civil e ter sobrevivido uns tempos, no Recife,
ensinando física e matemática. Largou tudo pela música.
Embora, nas suas músicas e nos shows explore muito a figura
do homem traído, do corno, dando a ideia de que ele mesmo já levou as suas
“pontas”, mantém há 30 anos um casamento estável com Cirlene.
O fato é que gostemos ou não dele Reginaldo Rossi, chamado de
Rei em muitas cidades do Nordeste, é um artista bem sucedido que entrou na
história da música popular brasileira sem precisar de empurrão da TV Globo nem
dos artistas intelectualizados que fazem MPB como gênero. Já gravou cerca de 50
discos, vendeu milhões deles e lotou casas com públicos recordes em Recife,
Salvador, São Paulo e outras capitais. Está aí, já bem coroa, mas em forma.
Arrebatando fãs com o seu borogodó. Já esteve uma dezena de vezes no Festival
de Inverno de Garanhuns e vem novamente outra vez este ano. Alguns odeiam. Mas
a praça fica sempre cheia quando ele está no palco. (Roberto Almeida).
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