Veiga pede penas
pesadas contra fraudes,
principalmente aqui no Estado do Pará
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As eleições deste
ano, colocaram, mais uma vez, no centro do debate, a credibilidade dos
Institutos de Pesquisa. A maioria absoluta deles apontou resultados
completamente diferente do revelado após a abertura das urnas. A exceção ficou
por conta do Iveiga, instituto criado pelo cientista político Edir Veiga. Desde
o início, Veiga apontava a liderança do candidato da oposição, Helder Barbalho,
enquanto todos os outros davam ao candidato à reeleição ampla margem de
vantagem, indo na contramão dos resultados eleitorais. Na entrevista a seguir,
Edir comenta esses resultados díspares, explica como são feitas as pesquisas
eleitorais e revela: sofreu pressão para mudar resultados.
P: As pessoas sempre
se perguntam, como é possível, ouvindo cerca de mil pessoas, saber como estão
as intenções de voto em um Estado com o número de eleitores do Pará. Qual a
mágica?
R: Não é mágica, é
metodologia científica. É a mesma metodologia que permite que você, tirando uma
gota de sangue, possa ter uma visão geral de todo os 5 litros de sangue do
corpo humano. Ou seja, você não precisa examinar os cinco litros de sangue para
descobrir se uma pessoa está com uma virose, um ataque bacteriano, etc.
Assim para
conhecermos as tendências eleitorais de uma cidade, de um estado ou de um país,
não precisamos ouvir todos os cidadãos. Basta termos uma amostragem
estatisticamente representativa e que seja o “clone” em miniatura de toda a
sociedade.
De acordo com os
preceitos legais, uma amostra representativa deve reproduzir uma série de segmentações
sociais como por exemplo: Caso optemos por uma pesquisa com margem de erro de
3% para mais ou para menos, devemos entrevistar 1.200 pessoas e a escolha
aleatória destas pessoas deve reproduzir todo as segmentações sociais apuradas
pelo IBGE, como por exemplo: a proporção entre homem-mulher, a proporção
correta de jovens, homens maduros e idosos. Reproduzir as faixas etárias dos
eleitores. Níveis educacionais, analfabetos, ensino fundamental, ensino médio e
ensino superior e assim por...
diante.
Caso consigamos
construir com todo rigor esta amostragem, estamos credenciados a acertar,
dentro da margem de erro o resultado da eleição. Note bem, o maior segredo do
acerto está em tornar a coleta dos dados o mais aleatório possível, ou seja, o
mais “espalhado” possível, para evitar “enviesamento” na coleta de dados, do
tipo: “penetrar” sem querer em áreas de voto concentrado deste ou daquele
candidato. Caso não haja este cuidado, aquele instituto é candidato a errar os
resultados das eleições.
P: O que garante
resultados de qualidade em uma pesquisa ?
R: O planejamento da
pesquisa, a construção do questionário, evitando perguntas indutivas ao
eleitor. Realização do pré-teste com até 5% dos entrevistados. O treinamento
dos pesquisadores de campo. Coordenação atuante em atividade de campo. Rigor na
busca de “espalhar” o máximo possível a coleta dos dados. Realizar uma checagem
da coleta de dados, de forma rígida e representativa. Criticar os dados para
corrigir possíveis enviesamentos. Nestas eleições detectamos e corrigimos
enviesamentos em vários locais, anulamos as coletas e repetimos a pesquisa.
P: Desde as eleições
para prefeito, há dois anos, seu instituto, bastante jovem, em relação aos
demais, vem se destacando por conseguir se aproximar dos resultados das urnas e
apontar tendências ainda no início do período eleitoral. Como isso tem sido
possível?
R: Não temos
compromisso com tática de nenhum candidato. Temos compromisso com nossos
achados científicos. Nestas eleições todos os institutos davam vantagem ao candidato
Jatene e a Iveiga encontrava dados totalmente divergentes do Ibope, Sensus,
Doxa, BMP e Perspectiva. Recebi pressões imensas. Fui acusado de “vendido”. Não
entendi a lógica de meus algozes, afinal, se quisesse me vender, o endereço não
seria a oposição. Este mesmo assédio moral sofri em 2010 quando apontei a
vitória da oposição, representada pelo PSDB e Jatene, contra o PT e a ex
governadora Ana Júlia. E digo mais, já recusei muita mala preta para mudar
resultados de pesquisa.
P: Como o senhor avalia
os resultados díspares nesta eleição? Os institutos não usam a mesma
metodologia? Não deveriam chegar a resultados próximos?
R: De fato, se os
institutos usam a mesma metodologia deveriam chegar ao mesmo resultado. Mas tem
fatores que podem alterar a perspectiva na aproximação dos resultados, como o
momento da coleta dos dados ou sair da margem de erro prometida. Este erro é
possível, na medida que qualquer pesquisa tem a probabilidade de erro total de
até 5%. Ou seja, as pesquisas, metodologicamente corretas, caso repetidas 100
vezes, tendem a acertar 95% das vezes e errar 5% delas. Parece que todos os
demais institutos caíram nesta margem de erro absoluto de 5%.
P: O senhor acredita
que houve manipulação dos dados?
R: Não tenho
elementos palpáveis para responder a esta pergunta.
P: O Ibope é um dos
institutos mais antigos e mais conhecidos do País, mas no Pará tem cometido
sucessivos erros de avaliação. O que pode explicar isso na sua opinião?
R: A explicação mais
plausível é que institutos nacionais como Ibope, Vox Populi, Sensus, não mandam
seus técnicos para recrutar, treinar e coordenar as pesquisas de campo. Estes
institutos nacionais terceirizam estas coletas de dados, e geralmente são
institutos da região ou do estado que fazem este trabalho. Daí que, as elites
políticas locais tem grande chance de buscar contaminar estes dados.
P: É possível um
instituto errar tanto?
R: Parece que sim,
pelo menos tem sido assim no Pará, desde as eleições de 2004.
P: As pesquisas
ainda conseguem influenciar o voto do eleitor?
R: Não creio. As
pesquisas científicas ainda não chegaram a uma conclusão pacífica sobre esta
questão. As pesquisas sempre retratam um momento específico da campanha, e
sempre é um retrato retrospectivo, nunca prospectivo. Mas uma coisa parece
certa, as pesquisas levantam ou rebaixam a moral das tropas de ruas dos
principais contendores eleitorais, daí o desespero de sempre aparecer na frente
nas pesquisas eleitorais.
P: Como esses erros
recorrentes, o senhor não acha que a tendência é de que o peso das pesquisas
sobre a decisão do eleitor diminua?
R: Creio que sim.
Acho que a tática central dos candidatos competitivos, mas que estão atrás nas
pesquisas, é justamente esta, apresentar resultados divergentes com as
pesquisas que lhe colocam atrás, justamente para levar o eleitor ao descrédito
no entorno de todas as pesquisas em curso. As pesquisas na verdade devem ser
tratadas com seriedade, porquê é o único instrumento que o eleitor possui para
saber como os outros eleitores pensam em votar, para que sua escolha individual
tenha maior peso no voto agregado.
P: No meio desse mar
de pesquisas eleitorais, o eleitor fica meio perdido sem saber em quem confiar,
o que o senhor recomenda?
R: Maior rigor na
legislação que organiza a realização de pesquisas eleitorais. Deveria ser
criada uma auditoria profissional vinculado ao TRE para que todas as pesquisas,
obrigatoriamente passassem pelo crivo científico especializado, e que fossem
criadas penalidades “pesadas” para autores de fraudes em pesquisas eleitorais,
para que os custos da fraude induzissem a classe política e os institutos a
terem um comportamento republicano.
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