Apesar dos investimentos de vários países em energias renováveis
e sustentabilidade, o mundo pode viver uma "catástrofe ambiental" em
2050, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2013, apresentado nesta
quinta-feira (14) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud).
Ao fim dos próximos 37 anos, são estimadas mais de 3 bilhões
de pessoas vivendo em situação de extrema pobreza, das quais pelo menos 155
milhões estariam na América Latina e no Caribe. E essa condição demográfica e
social seria motivada também pela degradação do meio ambiente e pela redução
dos meios de subsistência, como a agricultura e o acesso à água potável.
De acordo com a previsão de desastre apresentada pelo
relatório, cerca de 2,7 bilhões de pessoas a mais viveriam em extrema pobreza
em 2050 como consequência do problema ambiental. Desse total, 1,9 bilhão seria
composto por indivíduos que entraram na miséria, e os outros 800 milhões seriam
aqueles impedidos de sair dessa situação por causa das calamidades do meio
ambiente.
No cenário mais grave, o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) global diminuiria 15% em 2050, chegando a uma redução de 22% no Sul da
Ásia (Índia, Paquistão, Sri Lanka, Nepal, Bangladesh, Butão e Maldivas) e de
24% na África Subsaariana (todos os países ao sul do Deserto do Saara).
Mudanças climáticas e
pressões
As mudanças climáticas e as pressões sobre os recursos
naturais e ecossistemas têm aumentado muito, independentemente do estágio de
desenvolvimento dos países, segundo o relatório. E o texto também destaca que,
a menos que sejam tomadas medidas urgentes, o progresso do desenvolvimento
humano no futuro estará ameaçado.
O Pnud aponta, ainda, que os protestos em massa contra a
poluição ambiental têm crescido em todo o mundo. Por exemplo, manifestantes em
Xangai, na China, lutaram por um duto de águas residuais (provenientes de
banhos, cozinhas e uso doméstico em geral) prometido, enquanto na Malásia
moradores de um bairro se opuseram à instalação de uma refinaria de metais de
terras raras – 17 metais conhecidos como "ouro do século 21", por
serem raros, valiosos e de grande utilidade.
O relatório reforça também que as principais vítimas do
desmatamento, das mudanças climáticas, dos desastres naturais e da poluição da
água e do ar são os países e as comunidades pobres. E, para o Pnud, viver em um
ambiente limpo e seguro deve ser um direito, não um privilégio. Além disso,
sustentabilidade e igualdade entre os povos estão intimamente ligadas.
Desastres naturais em
alta
Além disso, de acordo com o texto divulgado nesta
quinta-feira, os desastres naturais estão se intensificando em todo o mundo,
tanto em frequência quanto em intensidade, causando grandes danos econômicos e
perdas humanas.
Apenas em 2011, terremotos seguidos de tsunamis e
deslizamentos de terra causaram mais de 20 mil mortes e prejuízos aos EUA,
somando US$ 365 bilhões (R$ 730 bilhões) e 1 milhão de pessoas sem casas.
O impacto mais severo foi para os pequenos países insulares
em desenvolvimento, alguns dos quais sofreram perdas de até 8% do PIB. Em 1988,
Santa Lucía – localizado nas Pequenas Antilhas, no Caribe – perdeu quase quatro
vezes seu Produto Interno Bruto (PIB) por causa do furacão Gilbert, enquanto
Granada – outro país caribenho – perdeu duas vezes o PIB em decorrência do
furacão Iván, em 2004.
Desafios mundiais
O relatório do Pnud ressalta, ainda, que os governos precisam
estabelecer acordos multilaterais e formular políticas públicas para melhorar o
equilíbrio das condições de vida, permitir a livre expressão e participação das
pessoas, administrar as mudanças demográficas e fazer frente às pressões
ambientais.
Um dos grandes desafios para o mundo, segundo o texto, é
reduzir as emissões de gases que provocam o efeito estufa. Apesar de os
lançamentos de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera parecerem aumentar com o
desenvolvimento humano, essa relação é muito fraca, destaca o Pnud. Isso
porque, em todos os níveis de IDH, alguns países equivalentes têm uma maior
emissão de CO2 que outros.
Além disso, pode haver diferenças grandes entre as províncias
ou estados de um mesmo país, como é o caso da China. Esses resultados, de
acordo com o relatório, reforçam o argumento de que o progresso humano não
demanda um aumento no uso de CO2, e que políticas ambientais melhores poderiam
acompanhar esse desenvolvimento.
Segundo o Pnud, alguns países já têm se aproximado desse nível
de desenvolvimento, sem exercer uma pressão insustentável sobre os recursos
ecológicos do planeta. Mas responder globalmente a esse desafio exige que todas
as nações adaptem suas trajetórias.
Os países desenvolvidos, por exemplo, precisam reduzir a chamada
"pegada ambiental", ou seja, quanto cada habitante polui o planeta
(como se fosse um PIB do meio ambiente). Já as nações em desenvolvimento devem
aumentar o IDH, mas sem elevar essa pegada. Na visão do Pnud, tecnologias
limpas e inovadoras podem desempenhar um papel importante nesse processo.
Mas, para reduzir a quantidade necessária de emissões de
gases de efeito estufa, os países dos hemisférios Norte e Sul têm que chegar a
um acordo justo e aceitável para todos, como compartilhar as responsabilidades,
informa o relatório.
Acordos e investimentos
Na Rio+20, Conferência da ONU sobre Desenvolvimento
Sustentável, realizada no Rio de Janeiro em junho de 2012, foi negociado entre
os governos da região da Ásia e do Pacífico um acordo para proteção do maior
recife de corais do mundo, o chamado Triângulo de Coral, que se estende desde a
Malásia e a Indonésia até as Ilhas Salomão. A área é responsável por fornecer o
sustento para mais de 100 milhões de pessoas.
Além disso, alguns países estão trabalhando juntos na bacia
do Rio Congo para combater o comércio ilegal de madeira e preservar o segundo
maior território florestal do mundo. Bancos regionais de desenvolvimento também
apresentaram uma iniciativa que conta com US$ 175 bilhões (R$ 350 bilhões) para
promover o transporte público e ciclovias em algumas das principais cidades do
mundo.
Outra parceria envolve a China e o Reino Unido, que vão
testar tecnologias avançadas de combustão de carvão. Já os EUA e a Índia
firmaram um acordo para o desenvolvimento de energia nuclear na Índia.
Alguns países também estão desenvolvendo e compartilhando
novas tecnologias verdes. A China, o quarto maior produtor de energia eólica do
mundo em 2008, é também a maior fabricante global de painéis solares e turbinas
para geração de energia pelo vento. E, na Índia, os investimentos em energia
solar aumentaram 62% em 2011, chegando a US$ 12 bilhões (R$ 24 bilhões) – os
maiores do planeta. Já o Brasil elevou seus investimentos tecnológicos para
energias renováveis em 8%, chegando a US$ 7 milhões (R$ 14 milhões).
Promessas
Até 2020, a China também prometeu cortar suas emissões de
dióxido de carbono por unidade de PIB em 40% a 45%. E, em 2010, a Índia
anunciou reduções voluntárias de 20% a 25%. Além disso, no ano passado,
políticos coreanos aprovaram um programa para reduzir as emissões de fábricas e
usinas de energia.
Na Rio+20, Moçambique anunciou ainda uma nova rota de
economia verde. E o México promulgou recentemente uma lei para reduzir as
emissões de CO2 e apostar em energias renováveis.
No Fórum de Bens de Consumo da Rio+20, as empresas Unilever,
Coca-Cola e Wal-Mart – classificadas entre as 20 melhores multinacionais do
mundo – também prometeram eliminar o desmatamento de suas cadeias de
abastecimento.
Além disso, a Microsoft prometeu que em 2012 se tornaria nula
em emissões de carbono. E a companhia Femsa, que engarrafa bebidas – como a
Coca-Cola – na América Latina, manifestou que obteria 85% de suas necessidades
energéticas no México a partir de recursos renováveis.
Mas, apesar de muitas iniciativas promissoras, ainda existe
ainda uma grande diferença entre as reduções de emissões necessárias e essas
modestas promessas, destaca o Pnud.
Fonte: G1
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