O seminário aconteceu nesta terça-feira (06), no
auditório do IFPA e contou com a participação em massa da
população, além de representantes de alguns municípios e entidades civil organizada. A matéria abaixo
foi pincelada pelas teclas do Jornalista Jota parenta. Leia em inteiro teor:
"Itaituba e a região Sudoeste do Pará apresentaram seu cartão
de visita, hoje, para o governo federal. A partir de hoje a Eletrobras passou a
saber que aqui existe uma comunidade que sabe o que quer e sabe muito bem como
agir para conseguir os seus objetivos.
O Seminário Público marcado para começar às 14:30 no
auditório do IFPA, teve um atraso de aproximadamente 30 minutos.
Obviamente, por ser a sede do seminário, a maioria das
pessoas era de Itaituba, mas, representantes de outros municípios que serão
afetados pelo completo Tapajós estiveram presentes, como de Jacareacanga,
Rurópolis e Trairão.
Depois de composta a mesa, Sidney Lago, superintendente de
Geração da Eletrobras, que esteve no comando dos trabalhos, começou dizendo que
quando os estudos foram iniciados em 2009, não havia exigência de fazer a
Análise Ambiental Integral. Falou que haveria um prazo de 15 dias para contribuições
que deveriam...
ser encaminhadas por e-mail. E afirmou que se fosse preciso seria
realizando outro seminário.
A prefeita Eliene Nunes, de Itaituba, foi a primeira a usar a
palavra. Ela falou sobre a reunião que acontecera pela parte da manhã, quando
disse que as coisas estão acontecendo com muita rapidez, no que tange às
hidrelétricas do completo Tapajós. “Aqui temos pessoas comprometidas para
pleitear as contrapartidas. Temos técnicos capacitados para analisar essas
questões referentes aos estudos. Quero deixar claro que nós não somos contra a
contração das hidrelétricas, mas, que venham com desenvolvimento”, afirmou a
prefeita.
O presidente da Câmara, vereador Wescley Tomaz, dirigindo ao
representante da Eletrobras, Sidney Lago, disse que por aqui, cobra e jacaré
tem muito mais valor do que o ser humano.
O advogado José Antunes, representando a subsecção da OAB
Itaituba lembrou que o projeto da BR 163 Sustentável não cumpriu nada do que
foi prometido. Também falou do engessamento da região a partir de 2006, quando
o governo federal criou uma série de unidades de conservação.
Entre todos os integrantes da mesa, o discurso mais
contundente foi do prefeito de Trairão, Danilo Miranda. “Não vamos apenas
olhando a bagunça que a construção das hidrelétricas vai deixar nos nossos
municípios para levar energia para o Sul e para o Sudeste. Não temos dinheiro
para reformar os nossos hospitais, não temos dinheiro para construir novas
escolas. Não podemos nos contentar em ver outros estados enriquecerem com a
energia do Pará, sem recebermos o que merecemos”. Danilo foi muito aplaudido
pela plateia.
Depois disso, de quatro até depois de cinco da tarde um
técnico apresentou o sumário do estudo. Foi preciso muita paciência para
aguentar até o final, pois havia muitas informações técnicas que enfadaram a
plateia. Mas, fazia parte do ritual da Eletrobras de tentar vencer pelo
cansaço.
Esse esforço deles para tentar cansar a plateia foi notado
por muita gente. Era jogo ensaiado. Até o ar condicionado não deu conta, e teve
quem dissesse que foi de propósito, isentando-se qualquer tipo de culpa da
direção do IFPA, que apenas cedeu o espaço.
Parada para o coffee break
Após a apresentação técnica houve a parada para o coffee break.
Faltavam apenas cinco minutos para as seis quando os
trabalhos foram reiniciados. E foi aí que começou o embate pra valer.
Falando pela Eletrobras, Sidney Lago tentou impor uma
condição que foi rechaçada desde o começo do seminário: prazo de 15 dias para
enviar sugestões, e somente por e-mail.
As pessoas presentes manifestaram-se de forma veemente, não
aceitando a imposição sobre hipótese nenhuma.
Não houve jeito. A comunidade itaitubense e tapajônica teve
que ser ouvido, e o governo federal viu e ouviu o que não gostaria.
No geral, as pessoas que pronunciaram muito bem, tudo mundo
indo direto ao assunto e mostrando posição firme.
Quando a professora-doutora Liz Carmen, o pessoal da empresa
Ecology, responsável pela produção do estudo e Sidney Lago ficaram surpresos
com o conhecimento que ela demonstrou a respeito do assunto.
Foram muito consistentes a falas de integrantes do movimento
SOMOS TODOS ITAITUBA, Jubal Cabral, Fabrício Schuber, Antonieta Lima, Armando
Miqueiro, Patrick Sousa, Davi Menezes e Nayá Fonseca. Cada um falou sobre um
tópico.
O representante da vila de Pimental arrancou aplausos por
suas palavras, pois, dirigindo aos membros da empresa Ecology e a Sidney Lago,
da Eletrobras disse que eles tem um frízer em casa para guardar comida; já o
frízer dele era o Rio Tapajós. Enquanto eles vão ao supermercado fazer compras,
o pessoal de sua vila tem que buscar seus mantimentos na roça.
Também chamou atenção a fala de um representante da etnia
munduruku, que foi muito aplaudido.
No final, depois do clima ter ficado muito tenso, após a
plateia deixar claro que não aceitaria o prazo imposto de apenas 15 dias para
apresentar sugestões, e mais ainda, que
não concordava de jeito nenhum com a imposição de que as proposições fossem
todas encaminhadas por e-mail, ficou definido que isso poderá ser feito por
escrito, e que dentro de 30 dias haverá um novo seminário para fechar essa
questão do estudo.
Armando passou mal
O empresário Armando Miqueiro passou mal durante seu
pronunciamento. Ele anunciou que estava encerrando sua fala porque não estava
se sentindo bem.
Armando, que recentemente teve problemas cardíacos, sofreu um
desmaio, tendo sido socorrido no local por bombeiros que estavam de plantão para
atender situações emergência.
Depois dos primeiros socorros ele foi encaminhado para o
Hospital D. Bosco, onde foi atendido minutos depois pelo médico Manoel Diniz,
que o liberou pouco depois das nove da noite.
O que eles disseram no avião
O pessoal do governo viajou ontem para Itaituba, no mesmo voo
em que vinha a professora Antonieta, que ocupou um assento próximo de alguns
deles.
Lá pelas tantas, um deles começou a falar sobre o seminário
público desta terça, sem fazer a menor ideia que estava perto de uma
itaitubense.
“Olha, a gente vai fazer o cacete amanhã em Itaituba. Já
sabemos quem são os líderes desse movimento; vamos conservar com os cabeças e
com certeza a gente vai desarmar isso”.
Hoje, terça, de manhã, ela comunicou o que ouviu, a alguns
membros do movimento, em uma reunião preparatória para o seminário.
Ou seja, eles vieram achando que seria uma barbada, e que
Itaituba e os outros municípios engoliriam tudo que eles falassem, sem
resistência.
Primeira vitória
A comunidade itaitubense e as representações dos demais municípios
que estiveram hoje no IFPA conseguiram a primeira vitória nessa luta de piaba
contra tubarão.
O governo preparou-se para enfiar, goela abaixo, esse estudo
intitulado de Avaliação Ambiental Integrada, fazendo crer a todos, que se trata
de um estudo que tem apenas valor consultivo.
O que o governo federal não esperava era encontrar um povo
motivado para defender os seus interesses, sem que seja preciso posicionar-se
frontalmente contra esses projetos, por entender quer essas usinas são projetos
irreversíveis. Então, em vez de ficar remando contra a maré, gastando seu tempo
com uma briga que parece não ter fim, Itaituba e outros municípios do Sudoeste
paraense querem mostrar ao governo que sabem que os impactos que sofrerão serão
imensos. E se não se cuidarem, ficaram apenas com o passivo.
A comunidade saiu fortalecida desse primeiro embate, pronta
para o que der e vier pela frente. Vai depender, daqui para frente, do modo
como o governo federal vai se comportar nesse processo. Se vier para conversar,
a gente conversa. Mas, se quiser briga, vai ter briga. Esse foi o recado mais
do que claro, que ficou na tarde de hoje. Saímos de seminário, muito mais fortes
do que entramos."
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