"Tenho orgulho da minha carreira política"
Conhecido pela capacidade de articulação política, Jader Fontenelle Barbalho, 66 anos, está entre os poucos nomes da história recente do Pará capazes de atrair - em doses sempre exageradas - ódio e amor.
Demonstrações que ele, sem elevar o tom, como é característica sua, debita na conta da liderança que conquistou ao longo dos mandatos que ocupou. “Não existe liderança água com açúcar. Não existe líder chazinho de erva doce ou erva cidreira. Já dizia Nelson Rodrigues que toda unanimidade é burra e eu nunca tive a pretensão de agradar a todos”, diz. “Na minha vida, entrei em campo e joguei e claro que entrei em bolas divididas. Tenho orgulho da minha carreira política e tenho grande vaidade da minha liderança”.
Jader foi vereador, deputado estadual, governador por dois mandatos, ministro, está no terceiro mandato como deputado federal e agora enfrenta a segunda disputa para o Senado. Estreou na vida pública no antigo MDB, sigla que reunia os adversários do regime militar e que deu origem ao PMDB, partido que já presidiu nacionalmente e do qual ainda é maior liderança no Pará.
A primeira eleição foi em 1966, quando tinha apenas 22 anos, e foi eleito veredor de Belém. Pegou gosto pela política e nunca mais parou.
Quando recebeu o canudo de bacharel em Direito pela Universidade Federal do Pará, já era deputado estadual. Passou pela Câmara Federal e, em 1982, deu o maior salto na carreira. Foi eleito governador do Estado. Em 1987, foi nomeado ministro da Reforma e do Desenvolvimento Agrário. Um ano depois, assumiu o Ministério da Previdência e Assistência Social. Em 1991, foi eleito novamente governador do Pará. E, em 1995, começava o conturbado mandato de senador, que terminaria com a renúncia em 2001.
Jader é um dos poucos políticos da geração dele ainda na ativos no Estado e, entre eles, é sem dúvida o mais conhecido, o mais respeitado e também o mais polêmico. O nome de Jader sempre atrai reações apaixonadas. Neste ano, mais uma vez foi eleito um dos cabeças do Congresso pelo Departamento de Assessoria Parlamentar (Diap), um órgão ligado aos sindicatos que acompanha o desempenho dos parlamentares e aponta aqueles capazes de influenciar a pauta do Congresso. Pela análise do Diap, Jader é apontado como articulador.
ARTICULAÇÃO
“Quem não articula não faz a política. O grande equívoco é imaginar que o trabalho de um político do meu nível, modéstia à parte, se restringe à presença em plenário. O trabalho é feito em reuniões com outras lideranças, audiências em ministérios. Ao longo da minha vida pública, poucas vezes vi no plenário os grandes nomes do Congresso”, diz, comentando outro estudo que o coloca entre os mais ausentes no plenário da Câmara. “Tenho mostrado que sou muito bom aluno porque, mesmo com as ausências, ainda continuo na lista dos cabeças e em alguns anos sou o único representante do Pará nessa lista”.
Acostumado à grande popularidade, Jader Barbalho viveu seu inferno astral entre 2000 e 2001, quando declarou guerra a outro cacique igualmente poderoso: o então senador baiano Antônio Carlos Magalhães. As trocas de acusações mútuas levaram os dois a renunciar ao mandato e provocaram um dos momentos de maior tensão na história do Senado brasileiro. ACM morreu em 2007.
SUPREMO
Para Jader, a conta da renúncia foi apresentada neste ano sob a forma do artigo 1º, inciso I, alínea “k” da chamada lei da Filha Limpa. A alínea “k” trata dos casos em que houve renúncia do mandato. Por causa disso, Jader teve a candidatura impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral, mas garante que não se abalou. “Vivo meu melhor momento político no Pará”. O candidato ao Senado recorreu ao Supremo. Seus advogados vão alegar que a lei não pode retroceder para punir. “O Supremo Tribunal Federal é o guardião da Constituição e não vai aceitar que a lei remova cláusulas pétreas. Seria um retrocesso que não correu nem durante o regime militar”.
Jader diz que não se arrepende da renúncia. Conta que deixou o cargo porque o clima político no Senado estava irrespirável. “Era a única saída para retornar no ano seguinte com a maior votação proporcional de um deputado federal na história do Pará. Agi como na guerra, onde às vezes é preciso recuar”.
Apontado como bom estrategista, do tipo que espera a raiva passar para tomar uma decisão, admite que, na briga com ACM, os dois passaram dos limites. “É claro que em alguns momentos a passionalidade nos faz ultrapassar os limites do racional. Extrapolamos”, diz, para em seguida mostrar certo orgulho. “ACM era o político mais poderoso do Brasil. Acovardava a todos e o único que teve a coragem de enfrentá-lo foi este caboclo do Pará”.
Aos eleitores e militantes de partido, nas andanças pelos municípios paraenses, Jader faz questão de ressaltar sempre que continua candidato ao Senado. “Sou candidato a uma cadeira na principal Casa de leis da República e espero, mais uma vez, contar com a confiança e o apoio do povo do Pará, que jamais me abandonou. No próximo dia 3 de outubro, tenho a certeza de que serei consagrado nas urnas. Fui duas vezes governador, duas vezes ministro, tenho uma história de compromissos com este Estado”.
Pelos eleitores, ele diz que só gostaria de ser lembrado como um político que “esteve à altura das expectativas do povo do Pará”. (Diário do Pará)
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