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Sob o título acima, está publicado na página 2, do primeiro caderno de O LIBERAL, edição desta sexta (15) e postado no blog do espaço aberto, leiam e depois clik no link do espaço aberto, logo abaixo do artigo... O blog do espaço faz uma apreciação do artigo.É assinado por Raul Meireles, advogado e presidente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Belém (Saaeb), Raul Meireles.
Até as pedras sabem que o centro político das eleições de 2010 no Pará passa, necessariamente, pela intervenção de quatro personagens centrais: a governadora Ana Júlia (PT), o deputado Jáder Barbalho (PMDB), o prefeito Duciomar Costa (PTB) e o ex-governador Simão Jatene (PSDB). Da capacidade de articulação política que essas figuras tiverem, para lá se deslocará provavelmente a vitória do pleito.
O ex-governador Simão Jatene, já com a candidatura lançada ao Governo do Estado, dos quatro, é o que está mais fragilizado. De um lado, porque sua trajetória político-eleitoral está indelevelmente ligada à figura do também ex-governador Almir Gabriel, que o arrancou das entranhas da burocracia governamental e o fez governador com a força gigantesca da máquina estatal, sem que ele tivesse sido submetido anteriormente a qualquer experiência pessoal de disputa eleitoral. Ocorre que o seu criador no passado é seu principal algoz no presente. Este fato lhe deixa extremamente vulnerável e amputa boa parte do apoio eleitoral que ele poderia agregar. De outro lado, porque, depois de 12 anos de poder no Estado, o PSDB elegeu apenas 13 prefeitos, o que corresponde a 9,1% em relação aos 143 municípios em disputa, portanto, muito abaixo dos 47 prefeitos eleitos em 2004, que significou, àquela altura, 32,9%, logo, teve um desempenho pífio nas últimas eleições municipais que lançaram as bases para este ano e agora colhe os frutos que plantou.
A governadora Ana Júlia, também já colocada como candidata à reeleição neste ano, enfrenta dificuldades de diversas ordens. Desde o desgaste natural de ser governo, agravado pela inexistência de realizações expressivas, capazes de chamar a atenção da sociedade, passando pela falta de credibilidade frente a seus interlocutores, pelo fato de não cumprir os acordos que estabelece, até a brutal inexperiência e, mesmo, incompetência de seus operadores políticos, ora arredios ao diálogo, que é o principal combustível do fazer político, ora enredados num emaranhado de objetivos menores e pessoais, cujo foco está distante da preocupação de reelegê-la. Numa palavra: a maioria das tendências internas do PT, exceção feita à DS, corrente da governadora, precisam dela e do seu governo para eleger ou reeleger seus candidatos, mas não precisam necessariamente reelegê-la. Não é outra a razão pela qual tanto o PMDB, aliado de primeira hora, lança sinais bastante claros de que pretende abandonar o barco, quanto o PTB, que vinha num processo de aproximação, cada vez mais procura se distanciar dessa alternativa. Isso indica que a candidatura da governadora Ana Júlia, mantido o estado da arte, corre o risco de trilhar o perigoso caminho do isolamento, reduzindo suas chances de reeleição. Por óbvio que não se pode ignorar a força da máquina estatal e o seu poder de influência, quando essa se coloca em movimento, mas apostar apenas nisso é um erro político crasso. Não só de maquinários, tratores e implementos agrícolas vive o eleitor paraense.
O deputado Jáder Barbalho convive com o dilema de ter que se decidir entre a candidatura ao Governo, ao Senado, ou continuar sendo deputado federal, hipótese pouco provável, mas que não se pode excluí-la do campo das possibilidades. Se fizer a opção pelo Governo, estará optando pelo PMDB, digamos uma posição mais partidária, pois na hipótese de vitória poderá acomodar os aliados que o acompanham ao longo desse tempo de maneira mais ampla e mais fácil. Se, por outro lado, disputar o Senado, estará fazendo uma opção de corte pessoal, pela qualidade de vida que aquela casa propicia aos seus membros, além do que terá mais tempo para olhar do Planalto o desenrolar da política local. No entanto, para tomar sua posição definitiva, precisa saber qual será a direção que o prefeito Duciomar seguirá. Jáder, certamente, não acompanhará no primeiro turno nem Ana Júlia, a menos que condições especialíssimas postas pelo Planalto consigam convencê-lo, tão pouco Simão Jatene, que não tem cacife político para atraí-lo. Resta-lhe, portanto, acompanhar de perto e com muito interesse o movimento que vem sendo concertado pelo bloco PTB/PR.
O prefeito Duciomar, se olharmos pelo ângulo político-institucional, é o mais tranquilo. Ainda tem três anos de mandato, uma administração saneada sob todos os aspectos, com muitos recursos para investimento e com obras estruturantes em desenvolvimento, o que indica a probabilidade de fechar sua gestão em ascensão e administrar politicamente os dois anos que ficará sem mandato. No entanto, sua decisão não é menos complexa, pois dispõe de pouco mais de 60 dias para tomá-la. É muito provável que, como o PMDB, o PTB também não apoiará no primeiro turno nem Ana Júlia, muito menos Jatene. O que se tem observado, pelos movimentos do prefeito, é sua intenção de formatar uma articulação político-partidária, a partir do bloco PTB/PR, compondo com o PDT, do deputado Giovanni Queiroz, que já integra a administração municipal e não tem o menor interesse de criar dificuldades desnecessárias se unindo à candidatura de Ana Júlia, em razão do brutal desgaste que o governo estadual experimenta no sul do Pará, onde se concentra a principal base eleitoral do partido e do seu presidente, muito menos de se aliar ao candidato Jatene, cujas divergências suplantam o campo da política.
Se Duciomar conseguir fechar essa trinca partidária, PTB/PR/PDT, terá grandes chances de atrair o PP, do deputado Gerson Peres, hoje ancorado ao governo Ana Júlia por falta de melhor opção. Ademais, se considerarmos que o prefeito dispõe de vários espaços no seu governo, bastantes atrativos, capazes de compensar a eventual perda que o PP terá se sair da SEAD, essa hipótese torna-se perfeitamente factível. Esse bloco agrega mais de 40 prefeituras no Estado, incluindo Belém, Marabá, Redenção, Castanhal, Capanema, portanto, pelo menos um terço dos votos do Estado. Diante desse fato, a pergunta que não quer calar é: o que fará o PMDB? Já dissemos que não apoiará no primeiro turno nenhuma das duas vias postas em disputa, PSDB e PT. Então? Vai aventurar colocando um “laranja” para disputar o governo e pôr em risco a eleição para o Senado do seu principal líder? Ou ele próprio se lançará candidato, sabendo que pode até chegar na frente no primeiro turno, mas não tem chance de vencer o segundo? Ou vai ancorar nessa terceira via, liderada pelo prefeito Duciomar, para garantir sua eleição ao Senado, que todos sabem é sua opção preferencial?
A meu juízo, neste último cenário, Duciomar é candidato ao Governo e comandará um segundo palanque para a ministra Dilma Roussef no Pará.
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RAUL MEIRELES é advogado.
raulmeireles@oi.com.br
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