Personagem principal da Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) do Cachoeira, o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira,
disse “não” 48 vezes para os deputados e senadores ontem, terça-feira, ao se
recusar a responder às questões da CPI. Com um ar irônico, que às vezes beirou
o deboche, Cachoeira repetiu que só vai falar depois de sua audiência, marcada
para os dias 31 de maio e 1.º de junho, na 11.ª Vara de Justiça Federal, em
Goiânia.
A falta de colaboração teve um efeito colateral indesejado
pela base aliada: colocou a empresa Delta no alvo da CPI, que, diante da
paralisia provocada por Cachoeira, deve avançar na quebra de sigilo da
empreiteira em todo o País, e não apenas na Região Centro-Oeste.
“Não vou falar. Pedimos para reavaliar nossa vinda aqui. Quem
forçou para eu vir aqui foram os senhores”, reclamou Cachoeira, ao fim das
cinco perguntas feitas pelo relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG).
Depois desse momento, ele adotou uma postura entre impaciente e entediado.
O depoimento de Cachoeira seria o primeiro grande momento da
CPI. Mas nem mesmo diante do anticlímax fugiu ao script de embate entre governo
e oposição. De um lado, os aliados do Planalto e o PT que, a todo custo,
tentaram com suas perguntas envolver o governador de Goiás, o tucano Marconi
Perillo, no esquema ilegal de Cachoeira. De outro, os tucanos que fizeram
perguntas direcionadas ao governador do Distrito Federal, o petista Agnelo
Queiroz, que teve assessores flagrados em negociações com Cachoeira.
Quarenta perguntas depois e passada uma hora e meia, a CPI
capitulou e decidiu acatar a sugestão da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) para que
a sessão fosse encerrada. “Estamos aqui perguntando a uma múmia. Não vou ficar
aqui dando ouro para bandido”, disse a senadora. “Vamos ficar aqui infindáveis
horas sem respostas”, concordou Odair Cunha.
O deputado Rubens Bueno (PPS-PR), reproduziu a pergunta que
recebeu via Twitter: “que bicho vai dar hoje?”.
Quebras
Provocado pela oposição, o relator Odair Cunha contrariou a
estratégia de blindagem da base governista e defendeu a quebra do sigilo
bancário da Delta Construções em âmbito nacional, além de seu principal
acionista, Fernando Cavendish. O argumento é que a Operação Saint Michel -
deflagrada pelo Ministério Público do Distrito Federal, como continuidade à
Monte Carlo - trouxe indícios do envolvimento da cúpula da empreiteira com o
esquema de Cachoeira.
Segundo integrantes da CPI, documentos obtidos na Saint
Michel mostram que os ex-diretores da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, e
no Sudeste, Heraldo Puccini, tinham procuração para movimentar dinheiro em
contas nacionais da construtora, e não apenas em suas regiões de atuação, o que
implica a autorização prévia da cúpula da empresa, no Rio. (AE)
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