O sociólogo Gilberto Freire, em Casa Grande e Senzala, e o
historiador Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, duas grandes obras
nacionais, nos dão ideia de que o homem brasileiro é uma figura cordial, capaz
de cometer atrocidades e conviver, de forma natural, numa sociedade violenta e
cheia de contradições.
É mais ou menos assim que hoje vejo a violência cruel se
abater em Belém e no interior do Pará. Sempre tive ideia de que nós no Pará
somos um povo hospitaleiro, gentil e pacato. Cordato demais até, em relação a
algumas questões que, se houvessem acontecido em outro lugar, teriam redundado
em violência coletiva. Eu ainda acredito
que somos assim, embora no fato histórico da Cabanagem estejam registrados atos
de extrema violência. O caboclo paraense tem boa índole, é feliz, então nada
combina com esse estado de extrema...
violência que estamos vivendo. Todas as pesquisas recentes apontam o Pará
numa posição de desvantagem, apesar de toda a riqueza no nosso solo, subsolo,
das belezas naturais e da posição geográfica; por tudo o que sabemos de valor
que aqui existe. Nossos indicadores econômicos e sociais são sempre os piores,
segundo qualquer pesquisa.
No ranking de homicídios no Brasil, o Pará é o segundo lugar.
Só perde para Alagoas e, mesmo assim, nesse campeonato de horror, Alagoas está
com índice em declínio, e o Pará em ascensão. São 44 casos por cada 100 mil
habitantes. Então, eu mergulho em tristeza por nossa gente pacífica e tolerante
de tanta sensibilidade musical e artística.
Eu gostaria de ir à tribuna do Senado e duvidar dessas
pesquisas; dizer que é tudo mentira; que quem quiser venha ver com seus olhos
como o Pará é rico, belo, com um potencial fantástico para o turismo; que os
paraenses são hospitaleiros e, portanto, não pode ser verdade o que dizem de
nós todas as pesquisas sobre violência e miséria. Gostaria de gritar até, mas
os fatos são mais fortes que qualquer pesquisa. Em todo noticiário de qualquer
parte do nosso território, a prevalência são as notícias sobre violência. Não
se trata mais das periferias, do confronto entre bandidos do tráfico e
policiais. Trata-se de qualquer lugar, a qualquer hora, por qualquer motivo. O
número de advogados mortos aqui é absurdo, e mais absurdo ainda é o número de
policiais assassinados. Os bandidos não fazem mais questão de esconder o rosto.
A Polícia está acuada. A polícia é vítima, está sendo assassinada por bandidos.
A Polícia está desamparada. Então, imagine como estão os cidadãos paraenses
nesse campo de guerra onde até os menos ligados à religião ou ao campo
espiritual fazem um ritual diário de preces pela proteção divina de retornar em
paz para a sua casa! Essa semana, num dos piores episódios, um policial foi
gravemente baleado e sua esposa morta, em pleno centro comercial de Belém, por
assaltantes que usavam uma moto. A esposa do policial era uma ativista,
integrante da associação das mulheres que lutam pelos direitos de seus maridos,
já que eles são impedidos por lei de fazê-lo. O policial é um cidadão fardado,
não há diferença: tem família, tem medo, sofre com a violência. Estamos todos
com medo – a Polícia e o cidadão. Estamos todos à mercê desse tempo que não
deveria existir no nosso querido estado.
Estou triste por mais essa família devastada pelo crime e
presto toda a minha solidariedade a essa categoria tão importante e necessária
para a sociedade. E digo: nós vamos vencer a luta, vamos buscar tempos mais
felizes, porque isso é possível. Nova Iorque, nos EUA, e Cali e Medellín, na
Colômbia, passaram coisas piores e deram a volta por cima.
É preciso que todas as esferas do estado, inclusive a
sociedade, estejam juntas para o enfrentamento do problema, pois uma coisa é
certa: não vamos diminuir os índices de violência com a inércia, com a
indiferença, com o descaso ou com o medo.
JADER BARBALHO
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