domingo, 4 de novembro de 2012

Gonzaga, de pai pra filho - O filme

 Hoje vemos uma profusão de cantores e compositores nordestinos fazendo sucesso, mas foi Luiz Gonzaga, com a sua voz e obra singulares, quem primeiro apresentou o sertão ao Brasil.
Ainda jovem saiu da inóspita Exu, no sertão de Pernambuco, fugido da cartucheira de um coronel com cuja filha flertava sob um pé de Juá:

“Juazeiro, juazeiro
Me arresponda, por favor,
Juazeiro, velho amigo,
Onde anda o meu amor...” 
> Passagem pelo Exército e começo difícil no Rio de Janeiro
Depois de passar dez anos no exército desembarcou no Rio de Janeiro, onde comeu o pão que o diabo amassou: a sua sanfona chorava tangos e fados, ou saltava sambas e foxtrotes pela zona de prostituição para lhe dar alguma comida.


Depois de ouvir vários gongos no programa “Ary Barroso” Luiz finalmente se fez ouvir quando resolveu compor um tema nordestino, o seu primeiro, “Vira e Mexe”, como o qual ganhou um contrato com a Victor.

Daí pra frente o sucesso lhe sorriu e o Brasil ouviu o canto telúrico do sertão: Luiz Gonzaga cantou a alma do nordeste com singularidade e a estética do seu canto sempre tomou como referência a árida paisagem em que nasceu.

> O Assum preto
Os passarinheiros do nordeste tinham o impiedoso hábito de furar os olhos da Graúna (Assum preto) para que o pássaro cantasse melhor e não voasse dos terreiros.

Quando Luiz perdeu o segundo grande amor da sua vida (mãe de Gonzaguinha), da comparação com o costume de cegar a Graúna surgiu, a meu ver, o mais belo baião da sua obra, o “Assum Preto” (em parceria com Humberto Teixeira), que começa com a observação da sina do pássaro:

"Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor"

E termina com a sina do cantor, que também se considera cego com a morte do seu amor:

"Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus."

> O Zé Matuto
Ele também soube, com maestria e bom humor, fazer o Brasil ver através dos olhos do “matuto nordestino”, como em “Zé Matuto”:

"Zé Matuto foi à praia só pra ver como é que é
mas voltou ruim da bola de ver tanta rabichola
nas cadeiras das muiés"

> Cantando para o povo pobre
Luiz Gozanga não fez fortuna pois foi de um tempo em que só faziam fortuna os donos das gravadoras. Os show que fazia eram, na maioria, ao ar livre.

“Gosto de cantar ao ar livre, pro povo que não pode pagar”, confidenciou ao filho, Gonzaguinha, em uma entrevista que o próprio fez com o pai e que foi base para o novo filme de Breno da Silveira, “Gonzaga, de pai pra filho”, que eu fui ver sábado (27).

O filme explora a conturbada relação entre Gonzaga e Gonzaginha. A partir do encontro dos dois em Exu, quando Gonzaguinha pegou um gravador e fez a entrevista com o pai.

A partir dessa insólita entrevista, que foi uma espécie de catarse entre pai e filho, o cineasta vai colando na tela a epopeia do "Reio do Baião".

Como eu tenho a graça de ser apenas um cinéfilo e não um crítico de cinema (não estou dizendo que os críticos não têm graça) e sou um juramentado apaixonado pela pessoa e obra do velho Gonzaga,  adorei o filme e vou passar a semana ouvindo os belíssimos baiões do velho Lua. Parsifal Pontes.

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