Hoje vemos uma profusão de cantores e compositores
nordestinos fazendo sucesso, mas foi Luiz Gonzaga, com a sua voz e obra
singulares, quem primeiro apresentou o sertão ao Brasil.
Ainda jovem saiu da inóspita Exu, no sertão de Pernambuco,
fugido da cartucheira de um coronel com cuja filha flertava sob um pé de Juá:
“Juazeiro, juazeiro
Me arresponda, por favor,
Juazeiro, velho amigo,
Onde anda o meu amor...”
> Passagem pelo Exército e começo difícil no Rio de
Janeiro
Depois de passar dez anos no exército desembarcou no Rio de
Janeiro, onde comeu o pão que o diabo amassou: a sua sanfona chorava tangos e
fados, ou saltava sambas e foxtrotes pela zona de prostituição para lhe dar
alguma comida.
Depois de ouvir vários gongos no programa “Ary Barroso” Luiz
finalmente se fez ouvir quando resolveu compor um tema nordestino, o seu
primeiro, “Vira e Mexe”, como o qual ganhou um contrato com a Victor.
Daí pra frente o sucesso lhe sorriu e o Brasil ouviu o canto
telúrico do sertão: Luiz Gonzaga cantou a alma do nordeste com singularidade e
a estética do seu canto sempre tomou como referência a árida paisagem em que
nasceu.
> O Assum preto
Os passarinheiros do nordeste tinham o impiedoso hábito de
furar os olhos da Graúna (Assum preto) para que o pássaro cantasse melhor e não
voasse dos terreiros.
Quando Luiz perdeu o segundo grande amor da sua vida (mãe de
Gonzaguinha), da comparação com o costume de cegar a Graúna surgiu, a meu ver,
o mais belo baião da sua obra, o “Assum Preto” (em parceria com Humberto
Teixeira), que começa com a observação da sina do pássaro:
"Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor"
E termina com a sina do cantor, que também se considera cego
com a morte do seu amor:
"Assum Preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus."
> O Zé Matuto
Ele também soube, com maestria e bom humor, fazer o Brasil
ver através dos olhos do “matuto nordestino”, como em “Zé Matuto”:
"Zé Matuto foi à praia só pra ver como é que é
mas voltou ruim da bola de ver tanta rabichola
nas cadeiras das muiés"
> Cantando para o povo pobre
Luiz Gozanga não fez fortuna pois foi de um tempo em que só
faziam fortuna os donos das gravadoras. Os show que fazia eram, na maioria, ao
ar livre.
“Gosto de cantar ao ar livre, pro povo que não pode pagar”,
confidenciou ao filho, Gonzaguinha, em uma entrevista que o próprio fez com o
pai e que foi base para o novo filme de Breno da Silveira, “Gonzaga, de pai pra
filho”, que eu fui ver sábado (27).
O filme explora a conturbada relação entre Gonzaga e
Gonzaginha. A partir do encontro dos dois em Exu, quando Gonzaguinha pegou um
gravador e fez a entrevista com o pai.
A partir dessa insólita entrevista, que foi uma espécie de
catarse entre pai e filho, o cineasta vai colando na tela a epopeia do
"Reio do Baião".
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