O advogado Paulo Hermógenes Guimarães negou ontem,
enfaticamente, durante depoimento prestado ao promotor de Justiça Nelson
Medrado, que tenha sido procurado pelo juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública de
Belém, Elder Lisboa Ferreira, ou com ele mantido qualquer contato, para pedir
propina de R$ 400 mil ao senador Mário Couto (PSDB) em troca de suposta
exclusão do político tucano do processo que apura fraudes superiores a R$ 120
milhões envolvendo diretores e servidores da Assembleia Legislativa (AL).
Em entrevista a um jornal local, o senador disse ter gravado
a conversa com o advogado e que, baseado nas declarações dele, iria pedir o
afastamento do juiz do processo da Assembleia, o que até agora não fez.
Ao desmentir o senador, Hermógenes afirmou também que nunca
tentou extorquir Couto “em seu nome ou a mando de terceiros nem tampouco obter
vantagem ilícita ou de qualquer espécie”. Durante todo o depoimento no
Ministério Público, ele estava acompanhado de seu advogado, Alex Andrey
Lourenço Soares. Relatou que conhece Couto há muitos anos, desde os anos 90 e
com ele mantém relações políticas a ponto de sua família, que é de Muaná, já
ter recebido apoio e também apoiar o senador. Couto visitava seus familiares
que retribuíam, apoiando-o nas eleições no Marajó. Na eleição para o Senado, o
apoio também não faltou.
Sobre os encontros que ambos mantiveram nos últimos cinco
meses, lembrou que o primeiro foi na residência do senador, a convite do
próprio Couto, em Cuiarana, no município de Salinópolis, em junho. O tema era a
eleição para prefeito e vereador. Nesse encontro, que teria durado horas,
segundo relata, ele consumiu “várias doses de uísque“ servidas pelo senador. Na
ocasião, depois de falarem sobre política em geral, o advogado pediu o apoio de
Couto para a campanha de seu irmão em Muaná, tendo o senador autorizado
informalmente o uso de seu nome e sua imagem na campanha do irmão do advogado,
candidato a prefeito.
A certa altura, Couto teria confidenciado que seria candidato
a reeleição ao Senado em 2014 e que estava enfrentando alguns problemas
judiciais em decorrência de investigações de sua gestão como presidente da AL,
tendo dito ainda que sua gestão foi igual à muitas outras havidas naquela casa
legislativa, e que se sentia perseguido porque tinham investigado a sua gestão.
Mas que iria resolver todos os problemas e estaria apto a concorrer novamente
ao senado.
A partir daí, Couto começou a falar do seu processo, mas
Hermógenes diz não lembrar, “devido ao tempo decorrido e ao uísque ingerido, se
chegou a tecer algum comentário sobre esse assunto”.
Já o segundo encontro, segundo o advogado, ocorreu duas
semanas após o primeiro, mas desta vez o convite do senador foi para que
Hermógenes fosse a sua casa, no conjunto Água Cristal, em Belém. O encontro
começou logo após o almoço e se estendeu até o final da tarde.
ENCONTRO
Hermógenes disse que tomou várias doses de uísque antes e
durante a conversa. Mais uma vez, trataram de eleições municipais, além de
futebol, e o apoio do senador à campanha de seu irmão à prefeitura de Muaná,
assim como as pretensões políticas futuras de Couto e sobre a política em geral
no Marajó. O advogado recorda que também trataram de valores financeiros para
ajuda política, financiamento de campanha, emendas e projetos parlamentares. No
final, Couto voltou a tratar de seus processos na Justiça.
Hermógenes diz que a esta altura da conversa, talvez
influenciado pelo clima ameno do encontro, as boas perspectivas políticas que
lhe acenava o senador, além da bebida e o tom informal que a conversa tomou,
“inclusive com algumas bravatas”, talvez tenha “exagerado em suas colocações”.
Ele diz, entretanto, que não passou disso pois “jamais se
comprometeu com Mário Couto a qualquer ato de interferência em seus processos
ou de intermediação na compra de decisão ou sentença favorável ao senador,
tanto que mesmo depois de cinco meses passados daquela conversa, não teve mais
qualquer outro contato com Mário Couto, seus assessores, nem tampouco recebeu
qualquer quantia em dinheiro para si ou qualquer outra pessoa”. Garantiu que
não conhece pessoalmente o juiz ou qualquer assessor dele.
(Diário do Pará)
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