segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Afinal, o que somos?

Entre 187 países avaliados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o Brasil figura na 84ª posição no que se refere ao Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH, que mede riqueza, alfabetização, esperança de vida, educação, taxa de mortalidade e outros dados. Ou seja, as Nações Unidas avaliam e classificam anualmente os países de acordo com o bem-estar da sua população, principalmente a infantil.

Essa incômoda posição deixa o Brasil atrás de países como Chile, Argentina, Barbados, Uruguai, Cuba, Bahamas, México, Pananá, Antígua e Barbuda, e Trinidad e Tobago, só para citar como estamos em relação à América Latina. Por outro lado, desde o ano passado, numa classificação de agências internacionais, o Brasil desbancou a Itália e passou a ser a 7ª economia do mundo. Perdemos somente para os EUA, China, Japão, Alemanha, França e Reino Unido. Previsões mais otimistas já apontam o Brasil como a 5ª maior economia em 2018. Na nossa frente devem estar apenas EUA, China, Japão e Alemanha, segundo notícias de jornais. Confesso que acho indecente a divulgação desses dados, porque eles apontam para um país injusto, onde a concentração de renda está quase toda em uma pequena parcela da população. Já tratei deste tema e até desci a detalhes, mas peço relevância ao leitor, pois sou clínico geral em matéria de avaliação e compreensão dos números apresentados ou discutidos por institutos matemáticos. Eu não compreendo e acredito que a maioria da população também não leva fé ao ler, ouvir e ver a efusiva apresentação dos dados anuais, de uma equação sem método compreensível, pelo menos para nós, pobres mortais. Ou então, como se explica que um país tão rico (o ex-presidente Lula e a presidente Dilma fazem palestras a países pobres sobre como aumentar a qualidade de vida das classes mais baixas) possa mascarar tanto a sua realidade? Como entender que, num país rico, mulheres grávidas, crianças e idosos sofram, diariamente, na porta de hospitais públicos sem atendimento, ou que estejam na rua com fome e frio, sujeitos a todo tipo de violência? Como entender uma juventude que busca freneticamente trabalho ou educação e só encontra portas fechadas? Eu tenho dificuldade de entender como o governo do ex-presidente Lula comemorou e ainda comemora a passagem de 20 milhões de brasileiros das classes D e E para a classe média, apenas com um programa de bolsa-tudo. A fórmula é esta: distribuição de bolsas assistenciais para milhões de brasileiros. Aí está o grande investimento em favor dos mais pobres, o fator que define a popularidade do ex-presidente Lula como a maior entre todos os homens que passaram pela presidência da República.

A festa que a mídia fez para a subida de um ponto na lista dos países com melhor IDH foi absurda (ano passado a nossa colocação era a 85ª). A fantasia por pouco não virou loucura. O cidadão comum deve estar com um nó na cabeça – ou uma pulga atrás da orelha – em ver a realidade a sua volta, da qual ele está excluído dos serviços primários e básicos (não tem acesso à casa própria, à água tratada, saneamento básico, educação e, principalmente, a uma vida saudável), e os noticiários a garantir que o Brasil é uma potência e está “bombando” lá fora; é um país rico, mesmo que o seu IDH seja um dos piores da América Latina; mesmo que os nossos indicadores sociais revelem desequilíbrios na distribuição de renda e que grande parte da população viva em condições miseráveis.

Sobre este tema as autoridades, economistas e institutos como o IBGE, IPEA e até o Ministério do Planejamento devem explicação à comunidade para que possamos entender esse enigma da pirâmide que é a possibilidade de sermos ricos e miseráveis. De como estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Segundo o Pnud, o IDH brasileiro pode não ter tanta importância para a nossa situação quanto para populações de países que estão na linha extrema da pobreza, como os da África, por exemplo. É que, no Brasil, uma melhor qualidade de vida, pode ser garantida pelo patrimônio individual, ou seja, quem tiver dinheiro, tem melhor expectativa de vida, acesso à saúde, educação, lazer, transporte e tudo mais, ao contrário dos países onde não existe infraestrutura, e aí a vida pode ser difícil mesmo para os mais abastados.

Parece até brincadeira, ou quem sabe uma charada, o Brasil ser a sétima potência mundial e ter um dos piores IDH da América Latina. É o caso de se dizer “entendi, mas não compreendi”.
JADER BARBALHO
*Texto originalmente publicado no Jornal Diário do Pará no dia 06 de Novembro de 2011.

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